sábado, 12 de janeiro de 2013

Copa do Mundo e Olimpíada não são eventos esportivos

A presidenta Dilma Roussef sancionou lei que dá isenção fiscal para o Comitê Olímpico Internacional e seus parceiros organizarem a Rio-2016.
Serão beneficiados o Comitê Olímpico Internacional (COI), o comitê organizador da Olimpíada de 2016 e às empresas responsáveis pela execução de atividades relacionadas aos Jogos Olímpicos. Tudo conforme o acordado pelo governo brasileiro, leia-se presidente Lula, quando da candidatura do Rio de Janeiro aos jogos olímpicos e nos mesmos moldes das isenções fiscais asseguradas aos parceiros e organizadores da Copa do Mundo.
Tais isenções são condições compulsórias impostas pelo COI e pela FIFA à organização de seus respectivos eventos. Pois que o presidente Lula dissesse não, obrigado, mas não queremos tal patifaria por aqui. Porém...
O governo Lula foi muito positivo e trouxe avanços importantes para o país, mas no que tange à política esportiva, foi um desastre. Ao invés de privilegiar a infraestrutura, promoção e prática do esporte aos jovens - segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), para cada U$1,00 investido no esporte de base, economiza-se U$3,00 com saúde -, não só pouco fez neste aspecto como patrocinou, com dinheiro público, eventos caça-níqueis, nos quais alguns poucos lucram horrores e o povo brasileiro paga a conta.
Copa do Mundo e Olimpíada, infelizmente, não são eventos esportivos. São grandes eventos comerciais nos quais a prática do esporte é a embalagem, a justificativa, de altos gastos públicos e portentosos dividendos a algumas empresas privadas, todas elas multinacionais.
Por causa da Olimpíada, o Rio de Janeiro está sofrendo uma profunda mudança urbanística, que na realidade se trata de uma grande higienização da cidade.
Milhares de famílias pobres estão sendo removidas, de forma compulsória e opressora, de comunidades localizadas no coração da cidade para lugares bastante distantes a não menos de 30km de suas origens. O objetivo é revitalizar a cidade, mas a realidade é o aniquilamento da dignidade e das relações sociais de milhares de pessoas.
De acordo com um documentário organizado pela urbanista Raquel Rolnik (link abaixo), famílias estão sendo removidas para conjuntos habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida que se localizam em lugares nos quais os serviços públicos (hospital, escola) e privados (bancos, supermercados) essenciais estão muito distantes. Além disso, os postos de trabalho ficaram tão longe, que 33% dos moradores reassentados perderam seus empregos após as mudanças.
Se o Rio de Janeiro quisesse dar exemplo de transformação urbana de sucesso, deveria integrar seus cidadãos à cidade ao invés de expulsá-los, excluí-los da sociedade organizada e infraestruturada.
A assistente social Ana Tereza Coutinho Penteado define bem a penúria que tais reassentamentos representam às famílias atingidas: "A pobreza urbana não é uma situação econômica, decorrente de poucos recursos financeiros, mas de escolhas políticas que fazem das pessoas pobres cada vez mais pobres, pela dificuldade de terem acesso aos bens e serviços que deveriam ser assegurados para todos os habitantes da cidade”.
É isso!

http://raquelrolnik.wordpress.com/2011/08/01/realengo-aquele-desabafo-otimo-documentario-sobre-politica-de-reassentamento-de-favelas/