quarta-feira, 6 de março de 2013

Nem anjo, nem demônio... Revolucionário! Hugo Chávez

Em imperdível entrevista ao Roda Viva em setembro de 2005, Chávez, ao ser perguntado se se considerava anjo ou demônio respondeu que nem uma coisa e nem outra, mas sim um revolucionário.
Revolucionário não só pelos inegáveis e extraordinários avanços sociais que proporcionou à Venezuela, mas também pelo discurso que cutuca, que penetra como agulha personagens e modelos econômicos e sociais deste perverso sistema ora vigente, baseado na supremacia do capital e, quando muito, com muita luta, oferece migalhas aos bilhões de pobres e miseráveis.
Aliás, em nosso país, é doloroso e vergonhoso - sim, tenho vergonha - as posições fortemente refratárias aos programas sociais iniciados no governo Lula. A horda de desfavorecidos do nosso país recebe um troco, aquele que damos ao frentista, ao pedinte do semáforo, e a gritaria não só das elites, mas sobretudo da classe média é aguda, impregnada de preconceito.
Mas a repusla a figuras como Chávez, Evo Morales e Lula não se da só pelas escolhas políticas e ideológicas, mas também pelas sua origens, como define com cotidiana maestria o jornalista Bob Fernandes: "Sentiam asco, nojo de Hugo Chávez, o mesmo que, em outras plagas, sentem em relação a Evo Morales, a Lula. Um sentimento que está quase aquém, ou além da ideologia, da política -quando entendidas, tais expressões, no seu sentido apenas usual, pedestre. Asco, nojo, porque um sentimento que nasce da rejeição étnica, antes de tudo. Uma questão de pele."
A Venezuela pré Chávez era um país incrivelmente desigual. Seu povo solenemente ignorado pelas elites a mamar o recusro natural mais cobiçado do planeta, dos quais os dividendos eram bem repartidos... entre elas... as elites.
Com Cháves, segundo dados da Unesco, da OMS e da ONU, o país registra a menor desigualdade entre ricos e pobres da Amárica Latina, a pobreza extrema caiu de 26% para 7%, a geral de 60% para 20%, a motalidade infantil de 19% para 9%. É pouco? Segundo o escritor uruguaio Eduardo Galeano, que lá viveu alguns anos como jornalista, a Venezuela tinha 2 milhões de crianças que não podiam ir à escola pois não tinham documentos. Chávez erradicou o analfabetismo. Há mais. Silêncio.

 A Venezuela é uma ditadura, cerceia a liberdade de pensamento, retalha e sufoca as empresas de comunicação, como afirma o editorial da Folha de S.Paulo de hoje. É disso que ouvimos, que somos informados pela grande mídia.
Mas o impoluto jornalista Bob Fernandes, que está em Caracas há cerca de dez dias, ou seja, no front, no epicentro, tarefa essencial de um jornalista, afirma que: " Eu tenho assistido à programação das emissoras de televisão à noite, tanto do Canal 8, estatal, quanto da Globovisión. Poucas vezes no mundo vi, não diria nem críticas duríssimas, não só polarização, mas sim, de parte a parte, uma agressividade incrível, agressões verbais de parte a parte… por isso, soa estranho quando falam em, formalmente, uma ditadura…"
Aliás, ao ler os diversos textos que Bob Fernandes tem escrito nestes derradeiros dias de Chávez, direto de Caracas, podemos ver que fomos e somos muito mal informados pelos meios de comunicação tradicionais, que dominam a informação ao sabor de seus interesses particulares.
Chávez e seus dircusrsos lúcidos, imprevisíveis, ácidos... mas sobretudo necessários, fará falta. Assim como Sócrates, o da democracia corintiana.
Cutucar o status quo incomoda. Enfrentá-lo então...

sábado, 12 de janeiro de 2013

Copa do Mundo e Olimpíada não são eventos esportivos

A presidenta Dilma Roussef sancionou lei que dá isenção fiscal para o Comitê Olímpico Internacional e seus parceiros organizarem a Rio-2016.
Serão beneficiados o Comitê Olímpico Internacional (COI), o comitê organizador da Olimpíada de 2016 e às empresas responsáveis pela execução de atividades relacionadas aos Jogos Olímpicos. Tudo conforme o acordado pelo governo brasileiro, leia-se presidente Lula, quando da candidatura do Rio de Janeiro aos jogos olímpicos e nos mesmos moldes das isenções fiscais asseguradas aos parceiros e organizadores da Copa do Mundo.
Tais isenções são condições compulsórias impostas pelo COI e pela FIFA à organização de seus respectivos eventos. Pois que o presidente Lula dissesse não, obrigado, mas não queremos tal patifaria por aqui. Porém...
O governo Lula foi muito positivo e trouxe avanços importantes para o país, mas no que tange à política esportiva, foi um desastre. Ao invés de privilegiar a infraestrutura, promoção e prática do esporte aos jovens - segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), para cada U$1,00 investido no esporte de base, economiza-se U$3,00 com saúde -, não só pouco fez neste aspecto como patrocinou, com dinheiro público, eventos caça-níqueis, nos quais alguns poucos lucram horrores e o povo brasileiro paga a conta.
Copa do Mundo e Olimpíada, infelizmente, não são eventos esportivos. São grandes eventos comerciais nos quais a prática do esporte é a embalagem, a justificativa, de altos gastos públicos e portentosos dividendos a algumas empresas privadas, todas elas multinacionais.
Por causa da Olimpíada, o Rio de Janeiro está sofrendo uma profunda mudança urbanística, que na realidade se trata de uma grande higienização da cidade.
Milhares de famílias pobres estão sendo removidas, de forma compulsória e opressora, de comunidades localizadas no coração da cidade para lugares bastante distantes a não menos de 30km de suas origens. O objetivo é revitalizar a cidade, mas a realidade é o aniquilamento da dignidade e das relações sociais de milhares de pessoas.
De acordo com um documentário organizado pela urbanista Raquel Rolnik (link abaixo), famílias estão sendo removidas para conjuntos habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida que se localizam em lugares nos quais os serviços públicos (hospital, escola) e privados (bancos, supermercados) essenciais estão muito distantes. Além disso, os postos de trabalho ficaram tão longe, que 33% dos moradores reassentados perderam seus empregos após as mudanças.
Se o Rio de Janeiro quisesse dar exemplo de transformação urbana de sucesso, deveria integrar seus cidadãos à cidade ao invés de expulsá-los, excluí-los da sociedade organizada e infraestruturada.
A assistente social Ana Tereza Coutinho Penteado define bem a penúria que tais reassentamentos representam às famílias atingidas: "A pobreza urbana não é uma situação econômica, decorrente de poucos recursos financeiros, mas de escolhas políticas que fazem das pessoas pobres cada vez mais pobres, pela dificuldade de terem acesso aos bens e serviços que deveriam ser assegurados para todos os habitantes da cidade”.
É isso!

http://raquelrolnik.wordpress.com/2011/08/01/realengo-aquele-desabafo-otimo-documentario-sobre-politica-de-reassentamento-de-favelas/