quarta-feira, 9 de abril de 2014

Samba de uma nota só

Há exatos treze meses não escrevo um texto. O último post deste blog foi em 06/03/13. Razões variadas, que não cabem no momento. O que interessa é o porquê deste texto, de voltar a escrever. Tenho lido e ouvido muitos delíreos. As redes sociais dizem muito. A mim desanimam bastante. A gota d´água  é o "alerta" de que caminhamos para um golpe comunista. Esquizofrênico! No mínimo.

Uma digressão: quando comecei a escrever, não raro compilava textos extensos. Geralmente enfadonhos, busquei ser mais conciso. Mas escrever não é fácil, quiçá a arte da concisão. Tenho dificuldade. Tentarei ser o mais objetivo possível na argumentação. No entanto, os fatos abordados tornarão inevitavelmente comprido este escrito.

Voltando ao início. A LER-QI está tramando um golpe institucional? Sério? Não! É o PT seu vetor, nos faz saber nossos probos humanos direitos. Quanto à atração nuclear PT - Comunismo, me recuso perder tempo com tal sandice, é muita indigência intelectual. Já com relação ao caráter golpista do PT, observações. Não há nenhum fato político e, sobretudo, institucional que permita tal divagação. Abusos existem, por certo. Mas estamos bem longe de qualquer possibilidade de ruptura do Estado Democrático de Direito. Em qualquer esfera federativa. Entretanto, se tem alguém que conclama abertamente em prol da fratura democrática, são os órfãos da ditadura, e não ditabranda, civil-militar 64-85, como visto em recente protesto. E com proteção do Estado. Na nossa triste ditadura, a oposição não recebia proteção do Estado, muito pelo contrário. Cheiro de pólvora se alastrava.
Mais. Se alguém foi vilipendiado, já no período pós ditadura, foi o PT. Trato das eleições presidenciais de 89. À época, o cheiro de queimado já se fazia sentir. Recentemente, as labaredas reacenderam. Diretores da Globo da época e, finalmente, o seu principal executivo, o conhecido "Boni", admitiram que o canal manipulou editorialmente o último debate eleitoral entre Lula e Collor, a dois dias do pleito, com o intuito de favorecer o segundo. Golpe branco, nada subliminar, pois. Emissoras de TV que, frise-se, são concessões públicas. Dentro da normalidade, cassação da concessão. 
Sufrágio de 1998. Mais precisamente 04/06/1997. Congresso Nacional aprova emenda constitucional que dá direito a uma reeleição aos titulares de cargo executivo. É sabido o enredo acerca da compra de parlamentares para aprovarem a PEC, com o intuito de manter no poder o então presidente, FHC. Provas fartas já à época. Mas há o fecho. O próprio FHC, em uma de suas colunas no jornal "O Globo", em 2012, admite que a compra de votos ocorreu. Fosse o personagem dessa história um metalúrgico, e não um nobre intelectual, achaques tirânicos aos montes.

Assunto mais que repisado na classe média e elite. Corrupção PT! Não só pela intensidade, mas sobretudo pelo monopólio exercido pelo PT neste aspecto, os conhecidos Petralhas. Asco! Fartos que são os casos de corrupção que atingem todos os partidos da ordem, PT inclusive, mas não só. Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram que, nas eleições de 2012, 317 candidatos a prefeito tiveram suas candidaturas barradas pela lei da ficha limpa. O PSDB liderou o ranking com 56 candidatos ficha suja, seguido por PMDB (49), PP (30), PR (25) e PSB (23). O PT aparece em oitavo, com 18 barrados, o que não é nada laudatório, mas vale a título de comparação.
Vem do mesmo TSE o ranking dos partidos com mais parlamentares cassados desde 2000. DEM ocupa a dianteira com 69 políticos cassados, o que dá  20,4% de seus parlamentares. Depois vêm PMDB (66 e 19,5%) e PSDB (58 e 17,1%). A partir dai, os números caem bastante, com PP (26 e 7,7%), PTB (24 e 7,1%), PDT (23 e 6,8%), PR (17 e 5%), PPS (14 e 4,1%), PT (10 e 2,9%), PPB (8 e 2,4%), PSB (7 e 2,1%), sendo que todos os restantes apresentam menos de 1%.  O PSOL não tem nenhum parlamentar cassado no período. Publicidade e estardalhaço, nestes casos, pra quê?

Petrobras. Reerguida, pujança sob o governo Lula. Atravessa problemas, relevantes. Que decorrem de verdades ditas, sim! Mas não só. Vejamos o caso da refinaria de Pasadena. Há muitas nuanças. As coisas não são tão simples quanto a conta U$1,2 bilhão menos (-) U$42,5 milhões, exaustivamente repisada pela mídia e pela sociedade, sugere. Não são tão simples pois as contas não são essas. Segundo Adriana Salles Gomes, editora chefe da HSM Management, e o jornal Valor Econõmico, entre outros números, ressalto que os belgas a compraram por um valor bem baixo, os U$42,5 milhões falados, pois assumiram uma dívida líquida da refinaria de cerca de U$200 milhões, da qual já haviam pago boa parte quando da venda de metade dela para a Petrobras.
Em resumo, a Petrobras comprou a refinaria inteira por U$486 milhões, mais U$386 milhões por custos judiciais, multas e tributos, decorrentes da briga judicial entre as sócias, e mais U$320 milhões pelos estoques de petróleo. Ou seja, entre outros ardis, se contabiliza compra de estoque como valor pago pela compra da refinaria pura e simples.
Nessa história toda, no entanto, há um detalhe que diz mais que números. À época, caras do "Deus" mercado, como Jorge Gerdau Johannpeter, dono da Gerdau, e Fabio Barbosa, ex-presidente do Santander e da Febraban e atual presidente do Grupo Abril, que edita o panfleto "Veja", faziam parte do Conselho de Administração da Petrobras e votaram a favor da compra da refinaria de Pasadena. Curioso, não? Por que a família Civita não questiona seu mais alto executivo? Irá esperá-lo afundar seu império, assim como ela sugere, cooperou para fundar a Petrobras? E o senhor Gerdau, por que não é procurado pela mídia para dar sua versão dos fatos?
Como se vê, há mais do que a maquiagem que nos é oferecida sobre o caso. Quem tiver maior interesse, recomendo ler este artigo: http://terramagazine.terra.com.br/blogdaadrianasallesgomes/blog/2014/03/27/o-episodio-da-petrobras-em-pasadena-e-o-ponto-de-vista-do-gestor/
Diante disso, traço um paralelo. Temos 20 anos de governos tucanos no Estado de SP. O sistema metroviário/ferroviário é pífio. Motivo suficiente para críticas, ou não, se o cidadão acha que tá bom. Só que não pára por ai. Novos fatos, quais sejam, escândalo dos cartéis do metrô e da CPTM emergem. Quer dizer, novos não, bem conhecidos da justiça Suiça, com condenações, há tempos. Segue. Capas e mais capas de revistas trazem à baila envolvimento de políticos graúdos, provas também. Espanto! Os arautos da honestidade, que inundam redes socias com compartilhamentos odiosos contra o governo federal e o PT, se calam. Por quê? A indignação é uma pantomima?

Tributos. O PT é o partido dos impostos e das taxas. Assim a classe média vocifera. Quem não se lembra da alcunha "Martaxa"? Pois bem, o governador Alckmin acaba de criar 27 novas taxas, a maioria em serviços ligados ao DETRAN. Me parecem coerentes. Coerência que os críticos contumazes de novos ou majorados tributos por determinados governos parecem não ter, pois neste caso não vi nenhum questionamento. Também houve aumento de taxas já vigentes. Os aumentos variam de 8% a eloquentes 133%. No aguardo das repercussões.

Há também atitudes intelectualmente desonestas, como atribuir certos acontecimentos ao governo Dilma, por exemplo, sem que ela tenha competência no caso. Lembremos, somos uma federação, os entes federados têm autonomia e determinados assuntos são de responsabilidade do Estado ou do Município, nos quais, obviamente, há governos de todos os partidos, petistas inclusive.
Para ilustrar, cito uma manifestação de uma conhecida, moradora de bairro nobre da cidade de São Paulo, ironicamente questionando a presidenta por ter faltado luz no seu bairro. Alô, Eletropaulo?? Estarrecedor! E tem estudo, faculdade, boa condição financeira. E escutar que os pobres votam no PT  porque são ignorantes. Bem, me parece que a ignorância atinge os eleitores de todas as correntes ideológicas, classes sociais e escolaridade, então.
Casos similares se repetem aos montes, como ocorre com a educação, que tem seus problemas atribuídos única e exclusivamente ao governo federal, sendo ser, entretanto, o ensino  infantil de responsabilidade dos Municípios, o fundamental e médio dos Estados e o superior da União. É óbvio que o governo federal tem responsabilidades e atribuições que influenciam todos os níveis educacionais, porém, repito, Municípios e Estados, como em todos os assuntos que são de sua responsabilidade, têm autonomia.
 Ou seja, o presidente da república não é o super-poderoso que pode tudo e, consequentemente, qualquer problema a culpa é sua . Isto se chama Estado autoritário, ditadura, do qual muitos críticos da esquerda têm saudades, saudosos que são da ditadura. Quero deixar claro, aos que têm dificuldade de interpretação, que o governo federal é responsável por muitas coisas, mas não todas! Mudamos, pois.

Para não dizer que falei só do PSDB e do PT, questiono. E o herói do panfleto Veja, senhor Demóstenes Torres, do DEM, tratado como exemplo de homem público pela publicação dos cães ferozes Civita, onde está, após o escândalo o envolvendo ao bicheiro Carlinhos Cachoeira? Está livrinho da silva, recebendo seu belo subsídio de procurador e passeando em Florença com sua esposa em lojas caríssimas. Imagine se fosse o Dirceu, meu caro, o estardalhaço que a Veja faria, que no caso do Demóstenes, seu parceiro, se cala.
E o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, filiado ao filhote da ditadura, DEM, em 2009, quando do escândalo do mensalão do DEM no DF, e hoje filiado ao PR? Está livre para se candidatar a governador do DF, e assim o fará.

Enfim, o discurso da corrupção é, por assim dizer, corrupto! Seletivo a mais não poder. Tem origem no preconceito e no recalque de quem rejeita uma mínima sinalização que seja de alteração do "status quo". A súcia conservadora, reacionária, também existe, e como. Dissimulada aos tubos.

O PT não é exemplo de candura, longe disso. Mas a criminalização do partido, o ódio nutrido pelos estratos sociais mais elevados como se tudo que acontece em nosso país é culpa dele e só ele é corrupto, é insano, desonesto.
Lembro que grande parte das investigações de corrupção, seja da situação ou da oposição, sem distinções, são obra da Polícia Federal, órgão ligado ao executivo federal e imensamente fortalecido pelo governo Lula.
A Controladoria Geral da União, então, faz um belíssimo trabalho de controle interno federal. Já li diversas denúncias de irregularidades do executivo federal pela CGU. E ela foi criada, vejam só, pelo ex-presidente Lula em 2003. Mais uma vez, como a PF, também é órgão ligado à estrutura de quem ela fiscaliza. Não por acaso, o prefeito Haddad criou a Controladoria Geral do Município logo que assumiu a prefeitura de São Paulo e os resultados positivos logo foram vistos, como no caso da máfia dos fiscais do ISS, que atingiu políticos de oposição e um secretário do governo Haddad, que se afastou do cargo.
Gostaria de entender como alguém tão corrupto CRIA e fortalece instituições que têm o condão de controlá-lo e investigá-lo, sobretudo no caso da CGU, que nem existia.
Ah, e o procurador geral da república, hein. No governo FHC o senhor Geraldo Brindeiro foi nomeado em 1995 e reconduzido três vezes ao cargo, no qual ficou ininterruptamente até 2003. Este PGR ficou conhecido como engavetador geral da república, pois dos 626 inquéritos criminais que recebeu, engavetou 242 e arquivou outros 217. Somente 60 denúncias foram aceitas. Entre as denúncias que engavetou está a de compra de votos para a aprovação da PEC da reeleição, que favoreceu FHC.
Já nos governos seguintes, os PGRs puderam e podem realizar seus trabalhos de forma independente.
Enfim, atualmente, denúncias de corrupção pululam pois, entre outros motivos, não ficam embaixo do tapete.  

A corrupção não é monopólio deste ou daquele governo ou deste ou daquele partido por um motivo muito simples. Ela não é fruto só de comportamentos morais desviados, mas, sobretudo, resulta do atual sistema político e econômico, do qual os conservadores, mais uma vez, são seus maiores defensores. Lutam o quanto podem contra o financiamento público das campanhas e a favor do financiamento de grandes empresas nas eleições, este último a mãe de todas as corrupções. E depois posam de defensores da probidade. Abjetos, isto que são.

Por fim, peço licença ao jornalista Flavio Gomes (1) e ao escritor Luis Fernando Veríssimo (2),  para finalizar meu texto com citações que exemplificam como a mídia e a sociedade tratam de forma desigual os desvios de conduta políticos, desigualdade que é retrato da nossa desigualdade social:

(1) " Tudo que é PT é escândalo e culpa-se diretamente suas lideranças. Tudo que é PSDB é tratado como desvios de conduta que suas lideranças desconheciam".

(2) "Proponho o fim da hipocrisia no julgamento de casos de corrupção no Brasil. Oficialize-se já dois sistemas de pesos e medidas diferentes. Um que só vale para o PT. E outro para os outros, principalmente o PSDB."




quarta-feira, 6 de março de 2013

Nem anjo, nem demônio... Revolucionário! Hugo Chávez

Em imperdível entrevista ao Roda Viva em setembro de 2005, Chávez, ao ser perguntado se se considerava anjo ou demônio respondeu que nem uma coisa e nem outra, mas sim um revolucionário.
Revolucionário não só pelos inegáveis e extraordinários avanços sociais que proporcionou à Venezuela, mas também pelo discurso que cutuca, que penetra como agulha personagens e modelos econômicos e sociais deste perverso sistema ora vigente, baseado na supremacia do capital e, quando muito, com muita luta, oferece migalhas aos bilhões de pobres e miseráveis.
Aliás, em nosso país, é doloroso e vergonhoso - sim, tenho vergonha - as posições fortemente refratárias aos programas sociais iniciados no governo Lula. A horda de desfavorecidos do nosso país recebe um troco, aquele que damos ao frentista, ao pedinte do semáforo, e a gritaria não só das elites, mas sobretudo da classe média é aguda, impregnada de preconceito.
Mas a repusla a figuras como Chávez, Evo Morales e Lula não se da só pelas escolhas políticas e ideológicas, mas também pelas sua origens, como define com cotidiana maestria o jornalista Bob Fernandes: "Sentiam asco, nojo de Hugo Chávez, o mesmo que, em outras plagas, sentem em relação a Evo Morales, a Lula. Um sentimento que está quase aquém, ou além da ideologia, da política -quando entendidas, tais expressões, no seu sentido apenas usual, pedestre. Asco, nojo, porque um sentimento que nasce da rejeição étnica, antes de tudo. Uma questão de pele."
A Venezuela pré Chávez era um país incrivelmente desigual. Seu povo solenemente ignorado pelas elites a mamar o recusro natural mais cobiçado do planeta, dos quais os dividendos eram bem repartidos... entre elas... as elites.
Com Cháves, segundo dados da Unesco, da OMS e da ONU, o país registra a menor desigualdade entre ricos e pobres da Amárica Latina, a pobreza extrema caiu de 26% para 7%, a geral de 60% para 20%, a motalidade infantil de 19% para 9%. É pouco? Segundo o escritor uruguaio Eduardo Galeano, que lá viveu alguns anos como jornalista, a Venezuela tinha 2 milhões de crianças que não podiam ir à escola pois não tinham documentos. Chávez erradicou o analfabetismo. Há mais. Silêncio.

 A Venezuela é uma ditadura, cerceia a liberdade de pensamento, retalha e sufoca as empresas de comunicação, como afirma o editorial da Folha de S.Paulo de hoje. É disso que ouvimos, que somos informados pela grande mídia.
Mas o impoluto jornalista Bob Fernandes, que está em Caracas há cerca de dez dias, ou seja, no front, no epicentro, tarefa essencial de um jornalista, afirma que: " Eu tenho assistido à programação das emissoras de televisão à noite, tanto do Canal 8, estatal, quanto da Globovisión. Poucas vezes no mundo vi, não diria nem críticas duríssimas, não só polarização, mas sim, de parte a parte, uma agressividade incrível, agressões verbais de parte a parte… por isso, soa estranho quando falam em, formalmente, uma ditadura…"
Aliás, ao ler os diversos textos que Bob Fernandes tem escrito nestes derradeiros dias de Chávez, direto de Caracas, podemos ver que fomos e somos muito mal informados pelos meios de comunicação tradicionais, que dominam a informação ao sabor de seus interesses particulares.
Chávez e seus dircusrsos lúcidos, imprevisíveis, ácidos... mas sobretudo necessários, fará falta. Assim como Sócrates, o da democracia corintiana.
Cutucar o status quo incomoda. Enfrentá-lo então...

sábado, 12 de janeiro de 2013

Copa do Mundo e Olimpíada não são eventos esportivos

A presidenta Dilma Roussef sancionou lei que dá isenção fiscal para o Comitê Olímpico Internacional e seus parceiros organizarem a Rio-2016.
Serão beneficiados o Comitê Olímpico Internacional (COI), o comitê organizador da Olimpíada de 2016 e às empresas responsáveis pela execução de atividades relacionadas aos Jogos Olímpicos. Tudo conforme o acordado pelo governo brasileiro, leia-se presidente Lula, quando da candidatura do Rio de Janeiro aos jogos olímpicos e nos mesmos moldes das isenções fiscais asseguradas aos parceiros e organizadores da Copa do Mundo.
Tais isenções são condições compulsórias impostas pelo COI e pela FIFA à organização de seus respectivos eventos. Pois que o presidente Lula dissesse não, obrigado, mas não queremos tal patifaria por aqui. Porém...
O governo Lula foi muito positivo e trouxe avanços importantes para o país, mas no que tange à política esportiva, foi um desastre. Ao invés de privilegiar a infraestrutura, promoção e prática do esporte aos jovens - segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), para cada U$1,00 investido no esporte de base, economiza-se U$3,00 com saúde -, não só pouco fez neste aspecto como patrocinou, com dinheiro público, eventos caça-níqueis, nos quais alguns poucos lucram horrores e o povo brasileiro paga a conta.
Copa do Mundo e Olimpíada, infelizmente, não são eventos esportivos. São grandes eventos comerciais nos quais a prática do esporte é a embalagem, a justificativa, de altos gastos públicos e portentosos dividendos a algumas empresas privadas, todas elas multinacionais.
Por causa da Olimpíada, o Rio de Janeiro está sofrendo uma profunda mudança urbanística, que na realidade se trata de uma grande higienização da cidade.
Milhares de famílias pobres estão sendo removidas, de forma compulsória e opressora, de comunidades localizadas no coração da cidade para lugares bastante distantes a não menos de 30km de suas origens. O objetivo é revitalizar a cidade, mas a realidade é o aniquilamento da dignidade e das relações sociais de milhares de pessoas.
De acordo com um documentário organizado pela urbanista Raquel Rolnik (link abaixo), famílias estão sendo removidas para conjuntos habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida que se localizam em lugares nos quais os serviços públicos (hospital, escola) e privados (bancos, supermercados) essenciais estão muito distantes. Além disso, os postos de trabalho ficaram tão longe, que 33% dos moradores reassentados perderam seus empregos após as mudanças.
Se o Rio de Janeiro quisesse dar exemplo de transformação urbana de sucesso, deveria integrar seus cidadãos à cidade ao invés de expulsá-los, excluí-los da sociedade organizada e infraestruturada.
A assistente social Ana Tereza Coutinho Penteado define bem a penúria que tais reassentamentos representam às famílias atingidas: "A pobreza urbana não é uma situação econômica, decorrente de poucos recursos financeiros, mas de escolhas políticas que fazem das pessoas pobres cada vez mais pobres, pela dificuldade de terem acesso aos bens e serviços que deveriam ser assegurados para todos os habitantes da cidade”.
É isso!

http://raquelrolnik.wordpress.com/2011/08/01/realengo-aquele-desabafo-otimo-documentario-sobre-politica-de-reassentamento-de-favelas/

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Cotas tisnam discurso sectário de que há seres humanos superiores

As cotas para egressos de escolas públicas nas universidades de mesma origem é tão alvissareira quanto justa.
Não resta dúvidas de que se trata de um instrumento que deve ser encarado de forma paliativa, temporária, de modo que o principal objetivo educacional do Brasil é, sem sombra de dúvidas, um ensino público de base - infantil, fundamental e médio, fase mais importante na formação do ser humano - digno e forte o suficiente para que não sejam necessários retalhos institucionais.
No entanto, no rastro da justeza das cotas, sobrevém um dado auspicioso, qual seja: o desempenho médio dos alunos que entraram na faculdade graças ao sistema de cotas é superior ao resultado alcançado pelos demais estudantes.
A constatação acima tisna discursos e pensamentos reacionários que pregam a superioridade natural de alguns afortunados diante de seres geneticamente inferiores quando, na verdade, tal situação é produto da cosntrução histórica capitalista que dá a alguns grupos sociais maiores e melhores oportunidades em detrimento de uma maioria oprimida e subjugada.
Enfim, o instituto das cotas às classes menos favorecidas mostra que não há e nem nunca houve pessoas superiores a outras, mas sim diferenças substanciais nas condições e instrumentos oferecidos ao desenvolvimento dos cidadãos.
Quem sabe após esta constatação indubitável nos conscientizemos e passamos olhar o outro, seja de qual origem for, como um igual, semelhante, que merece respeito e condições dignas ao desenvolvimento e o bem-estar.
É isso!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Vale tudo, até usar a imagem de um figura pública de forma mentirosa e criminosa









A imagem acima pulula pelas redes sociais nestes dias que antecedem o segundo turno das eleições municipais de São Paulo.
A agressividade dos reacionários (pleonasmo, sim, mas cabe muito bem!) bandeirantes é fartamente conhecida, todavia, neste caso, há algo de muito grave.
A frase que adorna a imagem é mentirosa e criminosa. Sim, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa nunca a proferiu, e a narrativa em primeira pessoa não deixa dúvidas quanto a intenção de quem produziu tal vírus que se disseminou pelo Facbook e semelhantes. Como não disse o que ali lhe é atribuído, trata-se de crime de falsidade ideológica.
Porém, nestes meios cibernéticos, o anonimato, que é proibido em qualquer tipo de manifestação crítica, encontra guarida. Dessa forma, os responsáveis por tamanho despautério se escondem de suas responsabilidades e a demagogia sorri aos seus ávidos receptores, pertencentes a uma casta supeiror, que pensa possuir o monopólio da moral e do conhecimento em face de seus "dalit" tupiniquins.
No entanto, esta pretensa casta superior não passa de um engodo, que usa de um ardil para tentar afirmar suas posições desprezíveis e pobres, ao invés da enorme sabedoria que acreditam possuir em seu DNA.
Digo isso baseado na verdade, e não em mentiras virulentas como a deste vaticínio falso.
No dia 07 de outubro deste ano, portanto há 20 dias, o ministro Joaquim Barbosa deu uma entrevista à jornalista da Folha de São Paulo Mônica Bergamo. Nela, suas declarações sugerem um pensamento diametralmente oposto à mentira reproduzida à exaustão.
Só interessa o Joaquim Barbosa juiz, profissional, já o cidadão... Silêncio! Não convém.
Senão vejamos trechos da matéria:
"O ministro votou em Leonel Brizola (PDT) para presidente no primeiro turno da eleição de 1989. E depois em Lula, contra Collor. Votou em Lula de novo em 2002.
O escândalo do mensalão não influenciou seu voto: em 2006, já como relator do processo, escolheu novamente o candidato Lula, que concorria à reeleição.
 - Eu não me arrependo dos votos, não. As mudanças e avanços no Brasil nos últimos dez anos são inegáveis. Em 2010, votei na Dilma."

Mas como o posicionamento do cidadão Joaquim Barbosa não se coaduna com os interesses daqueles  que o exaltam a mais não poder, melhor colocar palavras na boca dele, não é mesmo??

Assim, usa-se a figura de alguém que alcançou um prestígio fabricado e interesseiro no intuito de legitimar um posicionamento de classe, mesmo que esta pessoa não compactue com tal pensamento crítico. Mais grave impossível.
Se fossemos seguir a sugestão dos "letrados" paulistanos, qual seja, de pedir a benção ao nosso novo Deus, que consertou estas terras brasilianas e extirpou todos os corruptos dela, por imensa ironia, provavelmente ele diria para votar no candidato Fernando Haddad, do PT.
Todavia, não é usando a imagem de um juiz honrado, que cumpre seu papel de fiscalizador da lei, ainda que hajam divergências quanto a sua atuação no Mensalão, que irá se legitimar um posicionamento conservador. Tal expediente deveria envergonhar seus aficionados, pois, simbolicamente, trata-se da perda da autonomia decisória e crítica. Não têm capacidade de afirmar seus pensamentos, dos quais têm direito, ainda que absurdamente nojentos, com argumentos sólidos e verossímeis. Precisam criar um fascistóide.


Outra afirmação de Joaquim Barbosa à Mônica Bergamo.

"A imprensa brasileira é toda ela branca, conservadora. O empresariado, idem", diz. "Todas as engrenagens de comando no Brasil estão nas mãos de pessoas brancas e conservadoras."

A imprensa brasileira dominante e seus leitores, também pertencentes a este estrato social, majoritariamente refratários a qualquer sinalização de respeito à dignidade humana dos pobres e retroalimentados pelos meios de comunicação, não estão em êxtase pelo combate à corrupção que o julgamento do mensalão representa. Estão, isto sim, solenemente desejosos que os desdobramentos deste caso resultem na extirpação de um partido que tem seus erros e problemas, mas que também tem ótimos quadros e, sobretudo, aglutina forças e tem na sua origem personagens nordestinos e proveniente de classes sociais menos abastadas, as quais têm ojeriza, bem como imprime um projeto político de redução das desigualdades sociais, ainda que tímido, é bom que se diga, mas o suficiente para gerar aversão profunda por parte da classe média.
Ilustro meu argumento com dois exemplos, o primeiro vindo da imprensa e o segundo dos "detentores do monopólio da moral".

1º) A imprensa branca e conservadora de que trata o ministro Joaquim Barbosa, nada ingênua e muito menos ignorante, não traz a tona o necessário debate da reforma política. E quando o faz, como o jornal "O Globo" desta semana, é para manter a estrutura viciosa que ai está. Entre outros pontos, se posiciona contra o financiamento público das campanhas eleitorais e do voto em lista fechada, que significada votar nos partidos. Desta forma, esta imprensa se mostra favorável a manutenção deste sistema político/eleitoral que é o principal responsável por mensalões, este e outros, licitações direcionadas... Não há interesse na mudança destas práticas, portanto.

2º) A classe média e os ricos têm mostrado uma ferocidade atroz diante dos réus do mensalão e do PT.
No entanto, quando se trata de outros políticos corruptos, não se vê a mesma agressividade. O melhor exemplo é Paulo Maluf. Enriqueceu tremendamente as custas dos cofres públicos, tanto que é o principal responsável, juntamente com sua cria Celso Pitta, da dívida de mais de R$50 bilhões da prefeitura paulistana, a maior entre todas as capitais brasileiras. Como se não bastasse, faz troça, trata os cidadãos paulistanos, sempre que inquirido, com um tremendo escárnio. Mas neste caso, ao invés da ferocidade, é encarado como engraçado, folclórico, exemplo de malandro esperto e astuto.

Não irei abordar os escândalos com DNA tucano, democrata, enfim, dos representantes dessa gente "diferenciada", que, aliás, envolvem somas muito mais vultosas que o midiático Mensalão. Escândalos que, frise-se, são frequentemente acobertados pela imprensa, coisa que o ministro Joaquim Barbosa também deixa claro em um artigo do jornalista Bob Fernandes, no Terra Magazine. Só direi duas coisas.

Primeiro peço licença a amiga Nayara Romero para colocar aqui seu desabafo no Facebook:

Eu tenho vergonha de quem acha que o mal do Brasil é o mensalão ou o PT ou o Haddad, e que ainda por cima pensa que pessoas que votam no PT "não assistem televisão" ou não "lêem jornais". Puta que pariu de povo ignorante! A diversidade é positiva, em todos os sentidos, mas a ignorância posta e assumida como verdade absoluta mesmo com tanta possibilidade de conseguir analisar informações hoje em dia... é de foder. Sorry, precisava desabafar.


Por fim, lembro que a violência vista nestes últimos dias nas redes sociais não têm a ver com corrupção, mas sim com a origem e as políticas do PT, pois para estes impetuosos pseudocríticos da moralidade, o poder é monopólio das elites, deve servir a ela e nunca nem oferecer migalhas às classes subalternas, inferiores intelectualmente,  pois o que se fez de redistribuição de renda desde 2002 até agora é um pouco mais do que migalhas, e, não tenho dúvidas, não só o poder é monopólio das elites, como o assalto ao erário público também.

Ah, só pra lembrar, o DEM e o PSDB são os partidos, dentre todos, com mais deputados cassados na Câmara Federal.
O PT aparece em último nesta lista. O que não quer dizer que seja exemplo de candura. Mas até ai, quem é?








sábado, 28 de julho de 2012

"Elevar o padrão das classes menos favorecidas não é vender-lhes carros." Renata Falzoni

"Deixo claro que não sou contra carros e sim contra o mal uso dos mesmos.
Um modelo econômico calcado na saúde da indústria automobilística é insustentável e elevar o padrão da classe menos favorecida não é verder-lhes carros.
Transporte público de qualidade, valorização do espaço público para os cidadãos e segurança aos que vão a pé e de bicicleta é um direito que leva a igualdade social e esse não é o modelo seguido em Brasília, para governar o Brasil.
Carrodependência é insustentável sob todos os aspectos, sem falar que promove desigualdade social, a um altíssimo custo que não é levado em conta na hora de se fazer os balanços.
A falta de equidade nos investimentos públicos na mobilidade urbana é tão grande quanto essa cegueira do sonho do carro próprio.
Todos pagamos a conta em especial os que perdem 5 a 6 horas ao dia para ir e voltar ao trabalho."

Renata Falzoni, bike-reporter, pioneira neste jeito diferente e interessante de fazer jornalismo

sexta-feira, 27 de julho de 2012

GM mostra que não há almoço grátis

E a GM do Brasil mostra sua cara, ou melhor, a cara das grandes empresas.
O governo brasileiro diminuiu o IPI (imposto sobre produtos industrializados) não só para aquecer a economia em tempos de crise, mas para assegurar que não haveria demissões nas montadoras, motores da economia brasileira. Ou seja, o governo tirou do dele para garantir a renda dos brasileiros.
E eis que passados alguns meses, a GM sinaliza com o fechamento de mais de 2000 postos de trabalho diretos, sem contar o impacto nas diversas empresas satélites.
Como sempre digo, as grandes empresas são o retrato do nosso injusto sistema, no qual o que vale é a grana, a qualquer custo.
Ou como exemplificou o nobel da economia Milton Friedman: "no capitalismo não há almoço grátis", nunca.
Bem, é isso!
Diante de tal quadro, penso que, sob uma perspectiva fortemente pragmática, o melhor seja aceitar esta realidade, pois é da natureza dos detentores do capital objetivar o lucro, e só ele, para que possamos avançar dentro do possível, ao invés de acreditar em papai noel.
O que quero dizer, ao invés de contar com a boa vontade dos grandes capitais, o ideal seria formular e implementar políticas fiscais, econômicas e públicas nas quais o Estado tenha o controle de suas ações, sem precisar ficar refém do status quo privado dominante.
Mas para isso seriam necessárias mudanças estruturais profundas, complexas e mediatas.
Caso contrário, 99% da população continuará refém de 1%.

Agora... deixando esse tal de pragmatismo de lado, sempre é bom lembrarmos do gênio Eduardo Galeano: "a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar"
Quem sabe não possamos desfrutar, algum dia, um almoço grátis?