segunda-feira, 19 de março de 2012

Relações de Troca X Sistema Financeiro

As relações humanas são, desde o início, baseadas nas trocas. Dito de outro modo, as relações de troca são as fundantes de todas as relações humanas. Para o antropólogo Lévi-Strauss, a mulher foi o primeiro elemento de troca entre famílias, extrapolando, daí por diante, as relações humanas para fora da esfera familiar.
Tal constatação não é de difícil assimilação, pois, ainda que vivamos em uma sociedade cada vez mais individualista, ao mesmo tempo, paradoxalmente, somos cada vez mais dependentes de um sem número de tecnologias concebidas e produzidas por homens, o que deixa claro que continuamos a depender e a ser uma sociedade baseada nas trocas humanas, só se alterando a sua embalagem, sua intermediação, o modo como estas trocas são feitas.
Este intróito todo para dizer que se a base das relações sociais continua a mesma, os meandros, por sua vez, são bastante afetados pelo gigante que se transformou o sistema financeiro.
Ainda que sob uma perspectiva fortemente capitalista, é inevitável constatar que aos detentores dos meios de produção é fundamental uma massa consumidora de ótima musculatura. Todavia, nas últimas duas décadas, boa parte do capital migrou dos investimentos produtivos para os investimentos financeiros, seduzidos pelos ganhos fáceis e rápidos de um sistema artificial, mas forte o suficiente para ditar as regras das relações de trocas.
Sendo assim, ouvimos constantemente o debate acerca do patamar dos juros, representados pela taxa selic, que nada mais é do que a remuneração do dinheiro, influenciando na produção e na inflação do nosso país. Ora, com a diminuição dos juros, os ganhos do capital no sistema financeiro deixam de ser atraentes, o que faz com que estes migrem para o sistema produtivo, aumentando a oferta e, portanto, teoricamente, diminuindo a inflação. Mas o que se vê é o inverso.
Apesar de saber que tal análise desconsidera algumas variáveis e simplifica o problema de forma razoável, o grosso da questão está no fato de que, com a baixa de juros, o aumento produtivo só se realiza um bom tempo depois de que o sistema financeiro já derramou bastante dinheiro no mercado, o que leva a esta pressão inflacionária.
Dessa forma, o sistema financeiro dita as regras das relações de troca, sendo imprescindível a intervenção estatal nas políticas creditícias do mercado financeiro para estabilizá-la.
As políticas neoliberais, como se vê, nunca se sustentam.

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